Viração nos quadrinhos paraibanos

Fazer quadrinhos é um grande aventura, editar, então, uma odisseia. No Brasil nos acostumamos a embarcar nessa viagem editorial de certo modo pressionados pela indiferença do mercado aos novos artistas, mas também impulsionados pelo prazer de dominar o processo editorial, sem rédeas nem conveniências a serem respeitadas. Por isso mesmo os quadrinhos independentes, aqui ou em qualquer lugar, são a lufada renovadora da arte.

A nova geração de quadrinistas nas tiras diárias de A União

A nova geração de quadrinistas nas tiras diárias de A União

Na Paraíba, estado periférico de um país marginal, só nos resta mesmo pegar nos remos e por o barco a correr. Assim o fizeram os veteranos Deodato Borges e Luzardo Alves e o fazem as gerações que lhes sucedem. O Coletivo WC – de web comics, não confundir – pegou o espírito da coisa e foi construindo sua história, com ironia – sua revista se chama Sanitário – e inventividade, como requer a postura de quem já nasce underground.

Apesar das adversidades, os quadrinistas paraibanos teimam em aparecer, numa espécie de resistência vital que não pode calar. Em décadas passadas, nosso universo cartunístico ganhou o estímulo essencial de editores como Deodato Borges, Antônio Barreto Neto, Wilma Wanda e Marcos Tenório, que à frente dos jornais O Norte e A União promoveram uma verdadeira explosão de criatividade favorecendo o surgimento de jovens autores.

Nos anos 1970 os quadrinhos paraibanos ganharam não só dois suplementos dominicais de alta qualidade, como O Pirralho, de A União, e O Norte em Quadrinhos, de O Norte, como passaram a ocupar o prestigioso espaço cotidiano dos jornais. Essa inserção diária foi fundamental para o amadurecimento de algumas criações, que forçadas pela pressão temporal e pela resposta crítica e entusiasta do público, tiveram o escopo que elevou nossos quadrinhos a um patamar profissional.

Depois de anos de retrocesso de nossa imprensa com relação aos quadrinhos, que estiveram ausentes de suas páginas desde meados dos anos 1990, em 2013 A União toma a decisão acertada de voltar a publicar tiras diárias, dando vez à nova geração de quadrinistas, entremeada a alguns ícones da velha guarda. O pessoal do Coletivo WC, que embora já não exista como organização, tem finalmente a oportunidade de ver seus quadrinhos nas páginas dos jornais, no teste fulcral que é o contato com um grande público.

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 19 de novembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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Sobre Henrique Magalhães

Jornalista, professor, editor e autor de História em Quadrinhos
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