A personagem de história em quadrinhos Maria surgiu em julho de 1975, com produção de tiras não intensiva, mas constante. Já em 1976 saiu a edição de aniversário, revista que reunia boa parte das tiras produzidas. Em 1977 viria a revista Veneta número 1, com tiras de Maria realizadas nesse ano, mas renovando sua estrutura formal.
Veneta era uma edição de bolso, como explicitado em seu logotipo, tinha formato de 10,5cmx15cm, o mesmo dos cartões postais, no sentido horizontal. A revista teve uma única edição impressa em offset, 20 páginas, sendo capas em duas cores e miolo em preto e branco. Contou com apoio de publicidade, uma da própria gráfica em que foi impressa e duas do comércio local, cujos proprietárias eram conhecidas pelo autor. Outra edição foi montada, mas não chegou à impressão.
Veneta tinha o propósito de ser uma publicação barata, com poucas tiras e produção rápida. Curioso que a revista não tenha se chamado Maria, já que se dedicava exclusivamente à personagem. É muito provável que, para Maria, eu tenha reservado um projeto maior, uma revista mais encorpada, como de fato viria acontecer.
Vê-se, em Veneta, uma edição de passagem para a personagem Maria, uma tomada de fôlego para as transformações que se vislumbravam para a personagem. Ainda centrada no tema da solteirice, Maria, nessa edição, continua a perseguir sua busca por um marido, que se pode traduzir pela fuga da solidão. Contudo, não passa despercebido nas tiras o início de viés crítico, em particular dirigido ao imperialismo cultural estadunidense e à indústria cultural como um todo, com ênfase na televisão.
Lendo a revista hoje encontramos os elementos culturais da época, como os “enlatados” – termo que denominava pejorativamente as séries importadas –, algumas referências aos programas e personalidades nacionais, como Chacrinha, Moacir Franco, Sílvio Santos e a novela “coqueluche” do momento, Saramandaia. De quebra, Maria criticava a censura, que se impunha ao país. Embora algumas tiras pareçam ingênuas e o traço elementar, estava-se construindo nessa fase a personagem inflamada que ganharia os jornais diários do estado.
Henrique Magalhães
Publicado no jornal A União, João Pessoa, 5 de novembro de 2013, 2o Caderno, p.7.