Raparigas de Chico

Raparigas de Chico

Um dos bons momentos do carnaval paraibano.

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Quadrinhos poético-filosóficos e mais

Capa da revista Imaginário! n. 5, por Paloma Diniz

Capa da revista Imaginário! n. 5, por Paloma Diniz

A cada edição a revista Imaginário! se consolida como veículo de difusão das pesquisas em história em quadrinhos e temas correlatos, como humor gráfico, fanzine, animação, artes visuais, videogame, ficção científica, dentre outros. A revista é fruto do Grupo de Pesquisa em Humor, Quadrinhos e Games do Mestrado em Comunicação da UFPB, que reúne Doutores, Mestres e mestrandos da instituição, bem como todos os interessados nessas expressões artísticas e midiáticas.

Em sua quinta edição, de dezembro de 2013, a Imaginário! presta homenagem ao grande companheiro e incentivador Elydio dos Santos Neto, falecido em 3 de outubro de 2013, com a capa, realizada por Paloma Diniz e depoimentos emocionados, mas coerentes com a importância que teve para o estudo dos Quadrinhos e Educação.

Compõe o corpo da publicação artigo de Gian Danton sobre a obra do quadrinista Nelson Padrella, autor que se destacou por meio das publicações da editora Grafipar na década de 1970; Matheus Moura e Edgar Franco apresentam o processo criativo de Gazy Andraus, um dos expoentes dos quadrinhos poético-filosóficos. Seguindo o mesmo tema, Raimundo Lima Neto e Selma Oliveira estudam as tiras do blog Manual do Minotauro, de Laerte Coutinho.

Noutra perspectiva, Marcelo Bolshaw faz uma leitura meta narrativa de Sandman ressaltando os aspectos neobarrocos da série em quadrinhos; Alex Caldas apresenta estudo sobre caricatura como gênero do discurso. Jean Senhorinho, com Juliana Petermann, trazem artigo sobre a caracterização do mito em Homem-Aranha, apoiado nos conceitos de Barthes e Campbell.

Nildo Viana analisa as representações e valores no universo ficcional do Recruta Zero; já Cíntia Gonçalves demonstra que o fanzine eletrônico pode reverter substancialmente o quadro de pessoas que sofrem influência da mídia e deixam de desfrutar a diversidade musical.

Completa a edição a resenha de Marcelo Soares de Lima, sobre Os quadrinhos na era digital: HQtrônicas, webcomics e cultura participativa, organizado por Lúcio Luiz. São plurais as abordagens sobre o universo dos quadrinhos, do humor e das publicações independentes feitas por Mestres e Doutores de todo o país, o que reforça o caráter amplo e diverso que se pretende com a revista Imaginário!

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 31 de dezembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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Os quadrinhos impressionistas de Shiko

Os quadrinhos de Shiko têm se destacado em nível nacional

Os quadrinhos de Shiko têm se destacado em nível nacional

Desde a década de 1970 não se via no cenário dos quadrinhos paraibanos uma obra tão expressiva quanto à de Shiko. Francisco José de Souto Leite, nascido em Patos, Paraíba, em 24 de março de 1976, apresenta um trabalho inquietante, com histórias que provocam o leitor, levando-o necessariamente à reflexão. Seguindo a mesma trilha dos jovens autores nacionais, Shiko buscou nos fanzines seu próprio espaço pra publicação. A partir de 1997 ele passou a produzir Marginal, do qual saíram oito edições. As HQ deste volume são uma compilação de algumas das melhores histórias publicadas nesse fanzine.

A qualidade gráfica e textual do trabalho de Shiko já se fazia notar não apenas em seu fanzine, mas em outras publicações independentes, como a primeira edição do álbum Marginal (Marca de Fantasia, 2006); Blue Note, em parceria com Biu, produzido por intermédio da Lei de incentivo à cultura do Estado da Paraíba, em 2006; Amores plurais (Marca de Fantasia, 2012), álbum coletivo em que fez a capa e uma das HQ e O azul indiferente do céu (Marca de Fantasia, 2013).

Se inicialmente Shiko buscou no espaço alternativo o meio ideal para desenvolver sua obra com toda liberdade e experimentação, não demoraria a ultrapassar os limites desse meio e chegar de forma arrebatadora ao mercado, com o lançamento de O Quinze, adaptação para quadrinhos da obra de Rachel de Queiroz (Ática, 2012) e Ingá, graphic novel com o personagem Piteco, de Maurício de Sousa (Panini, 2013).

Autodidata, Shiko armazena uma bagagem cultural invejável. Desde cedo leu os clássicos da literatura mundial, Rimbaud, Baudelaire, Marx, ampliando os horizontes muito além dos bancos escolares. Os quadrinhos europeus lhe impregnam influências incontornáveis, a música cria o clima para suas histórias, a cultura beat lhe serve de referência temática, com a observação cuidadosa das ambientações da rua, dos hábitos, do vestuário, elementos que enriquecem seu universo ficcional.

A expressão poética dos quadrinhos de Shiko, repletos de referências e inspirações literárias, associada à delicadeza de seu traço, representam um dos melhores expoentes dos quadrinhos brasileiros em sua feição impressionista.

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 24 de dezembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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A noite memorável dos quadrinhos

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Paloma Diniz, Sidney Gusman (palestrante), Henrique Magalhães e Daslei Bandeira prestigiando o evento

Vitória Lima, escritora e articulista do jornal A União, de João Pessoa, fez uma crônica sobre os acontecimentos culturais na cidade na primeira semana de dezembro. Um dos trechos de seu texto fala sobre o evento Top! Top! Convenção Paraibana de Quadrinhos, promovido pela Comic House sob o comando de Manassés Filho.

A convenção, ocorrida nos dias 6 e 7, teve na primeira noite uma mesa redonda com Sidney Gusman, editor da série Graphic MSP, de Maurício de Sousa Produções, e mais os autores Shiko e Gustavo Duarte. O paraibano Shiko deu sua versão ao personagem Piteco, com o álbum Ingá e Gustavo Duarte retrabalhou o personagem Chico Bento, com o álbum Pavor Espaciar.

No sábado, 7 de dezembro, teve vez o lançamento desses álbuns e outros mais, que fazem o repertório dos dois autores. A Comic House ficou pequena para as longas filas de fãs que se formaram e esperaram pacientemente por uma dedicatória ilustrada. Os exemplares disponíveis rapidamente se esgotaram, frustrando muitos que chegaram para o evento, mas que não perderam a oportunidade de fazer contato com os autores e tantos amigos que marcaram presença.

Essa noite memorável para os quadrinhos encheu de entusiasmo Vitória Lima, mãe da quadrinista Thaïs Gualberto e ela mesma leitora atenta do melhor que se produz no país. Vitória fala do maravilhoso trabalho de Shiko, que transporta a ação de sua HQ para a nossa Itacoatiara do Ingá, que tanto precisa da atenção das autoridades: “Muito belo e oportuno o trabalho de Shiko, que, com certeza, vai chamar a atenção do IPHAEP para a urgente necessidade de cuidados para com aquele bem arqueológico que nos foi legado por nossos ancestrais”.

A depender dos quadrinhos, nossa memória estará preservada, se não fisicamente, em suas relíquias e monumentos, mas sob a pena e as tintas que transbordam talento e sensibilidade para registrar as coisas da terra.

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 17 de dezembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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Top! Top! reúne Shiko, Gustavo Duarte e Sidney Gusman

Cartaz de Top! Top! Convenção Paraibana de Qaudrinhos

Cartaz de Top! Top! Convenção Paraibana de Quadrinhos

Manassés Filho, o comandante da loja especializada Comic House, realiza anualmente um encontro de quadrinistas e entusiastas para debater e promover lançamentos, no que denominou Top! Top! Convenção Paraibana de Quadrinhos. O nome do evento faz alusão e homenageia o fanzine Top! Top!, publicado pela Marca de Fantasia.

Em 2013, a convenção ocorreu nos dias 6 e 7 de dezembro, na Estação Cabo Branco de Ciências e Artes, e no receptivo ambiente da Comic House. Os convidados deste ano foram os quadrinistas Shiko e Gustavo Duarte, além do jornalista Sidney Gusman, responsável pelo planejamento editorial da Mauricio de Sousa Produções e editor-chefe do Universo HQ (www.universohq.com), principal site sobre quadrinhos do país.

São de autoria de Sidney os projetos MSP 50, MSP+50, MSP Novos 50, Ouro da Casa, Graphic MSP, Mônica(s), que contam com a participação, dentre outros, de Shiko e Gustavo Duarte. Shiko acaba de lançar o álbum Ingá, com sua versão de Piteco, remontando à memória ancestral da Paraíba e Gustavo Duarte deu seu toque pessoal a Chico Bento, no álbum Horror Espaciar. Os dos volumes saíram na série Graphic MSP e foi sobre essa produção que debateram com o público local os dois autores e Sidney Gusman.

O debate ocorreu no dia 6 de dezembro, na Estação Cabo Branco de Ciência e Artes. No dia 7 os artistas estaveram na Comic House, para uma concorrida sessão de autógrafos. Além de Pavor Espaciar, Gustavo Duarte dedicou outros álbuns de sua autoria, como Taxi, Birds, Monstros e 13. Por sua vez, Shiko lançou Ingá e dedicou Blue Note, O Quinze e Marginal. Blue Note é uma parceria com Biu; O Quinze, uma adaptação do romance homônimo de Rachel de Queiroz; e Marginal, em segunda edição, reúne histórias autorais publicadas no fanzine desse autor.

A Comic House tem se colocado não só como uma loja especializada em quadrinhos, mas como protagonista da cena em João Pessoa, promovendo lançamentos frequentes além de abastecer o público com o que há de melhor no mercado editorial. No mais, conta-se com a simpatia contagiante de Manassés Filho, que é um conhecedor profundo dos quadrinhos.

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 10 de dezembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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Shiko e o poema gráfico

Álbum de Shiko inspirado no quotidiano

Álbum de Shiko inspirado no quotidiano

Desde o início de sua criação de história em quadrinhos, em meados da década de 1990, Shiko já demonstrava uma sensibilidade pouco comum aos jovens que mal saíam da adolescência. O trabalho de Shiko não se guiava pelo decalque dos super-heróis, os personagens preferidos dessa faixa etária, muito menos pelo mangá, gênero que se expandia no país como uma febre avassaladora.

Ao contrário de seguir o apelo fácil dos quadrinhos de massa, que pululam no mercado editorial, o traço de Shiko já trazia o requinte dos quadrinhos autorais, comumente de origem europeia, mas com um toque de brasilidade ao mesmo tempo universal. Como obra personalizada, o trabalho de Shiko evoluiu gráfica e plasticamente, seja pelas incursões nos grafites de rua, seja pela imersão nas artes plásticas.

Malgrado a força significante de sua arte visual, Shiko esmerou-se desde sempre em buscar um texto reflexivo, não raro inspirado ou baseado na literatura, que deu o escopo necessário à construção de sua obra. Não se espere na obra de Shiko a narrativa obvia e linear dos quadrinhos de aventura; seu texto pode ser considerado como uma narrativa poética, ao mesmo tempo literária e funcional.

Foi exatamente um poema que motivou Shiko a produzir no final de 2013 o álbum O azul indiferente do céu, que lançado por conta própria, mas com o apoio indefectível da loja especializada Comic House e da editora Marca de Fantasia. O trabalho corrobora a força da obra de Shiko, que ganha cada vez mais destaque no país.

A partir de um poema de Jorge Luiz Borges, encontrado com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Colômbia, assassinado em 1987, Shiko constrói uma narrativa que antecede ao fato, numa elaboração ficcional que toma a realidade perversa e violenta da América Latina como lastro, mas sem ceder à linguagem panfletária. Consistente e fluídica em seu desdobrar, Shiko nos oferece um verdadeiro poema gráfico, numa alusão à graphic novel.

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 3 de dezembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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Um festival espetacular

O FIQ teve como homenageado Laerte Coutinho

O FIQ teve como homenageado Laerte Coutinho

Belo Horizonte foi o cenário de mais um Festival Internacional de Quadrinhos, FIQ, já em sua oitava versão. Em 2013, ocorreu entre os dias 13 e 17 de novembro, na Serraria Souza Pinto, com entrada franca. O FIQ nasceu para dar sequência à Bienal de Quadrinhos do Rio de Janeiro, que não conseguiu manter-se mais que duas edições, no início da década de 1990. Contudo, o FIQ ganhou brilho próprio e se tornou o maior evento do gênero no país.

Segundo o programa do Festival, o objetivo foi apresentar uma amostra da produção contemporânea dos quadrinhos em Minas Gerais, no Brasil e no mundo, recebendo artistas, exposições, debates, oficinas, feira de quadrinhos, lançamentos, sessões de autógrafos, dentre outras atividades relacionadas à nona arte. A realização foi da Fundação Municipal de Cultura.

Pouco comum no país, onde os quadrinhos são ainda tidos como mero divertimento juvenil, esse gênero de festival encontra grande efervescência na Europa e nos Estados Unidos, contando com a participação do mercado editorial. Aqui, fica evidente o distanciamento das grandes editoras no patrocínio e na participação efetiva nesses eventos, como se não se importassem em conquistar um público ávido pelas novidades editoriais.

Na ausência dos produtores de peso, como Globo, L&PM, Companhia das Letras, Panini, que não se preocupam em expor seus produtos para a atração do público, quem brilhou mesmo foram os pequenos editores e os produtores independentes. O afluxo de fanzines, álbuns e revistas produzidas pelos próprios autores ou por associações têm dado um brilho especial ao FIQ, que se transforma numa grande feira de todos os tipos de experimentações gráfico-editoriais.

O festival este ano teve, entre outros, a presença espetacular do italiano Ivo Milazzo, desenhista do célebre personagem Ken Parker, que veio lançar no país seu álbum Tiki, sobre a cultura indígena da Amazônia. A maioria dos autores nacionais esteve presente, contribuindo com sua arte para a riqueza do festival, que teve como grande homenageado o cartunista Laerte. Da Paraíba, registramos a presença de Shiko, com a aguardada versão de Piteco, de Maurício de Sousa, além de Samuel de Gois, Ricardo Jaime, Jack Herbert, Thaïs Gualberto e outros mais.

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 26 de novembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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Viração nos quadrinhos paraibanos

Fazer quadrinhos é um grande aventura, editar, então, uma odisseia. No Brasil nos acostumamos a embarcar nessa viagem editorial de certo modo pressionados pela indiferença do mercado aos novos artistas, mas também impulsionados pelo prazer de dominar o processo editorial, sem rédeas nem conveniências a serem respeitadas. Por isso mesmo os quadrinhos independentes, aqui ou em qualquer lugar, são a lufada renovadora da arte.

A nova geração de quadrinistas nas tiras diárias de A União

A nova geração de quadrinistas nas tiras diárias de A União

Na Paraíba, estado periférico de um país marginal, só nos resta mesmo pegar nos remos e por o barco a correr. Assim o fizeram os veteranos Deodato Borges e Luzardo Alves e o fazem as gerações que lhes sucedem. O Coletivo WC – de web comics, não confundir – pegou o espírito da coisa e foi construindo sua história, com ironia – sua revista se chama Sanitário – e inventividade, como requer a postura de quem já nasce underground.

Apesar das adversidades, os quadrinistas paraibanos teimam em aparecer, numa espécie de resistência vital que não pode calar. Em décadas passadas, nosso universo cartunístico ganhou o estímulo essencial de editores como Deodato Borges, Antônio Barreto Neto, Wilma Wanda e Marcos Tenório, que à frente dos jornais O Norte e A União promoveram uma verdadeira explosão de criatividade favorecendo o surgimento de jovens autores.

Nos anos 1970 os quadrinhos paraibanos ganharam não só dois suplementos dominicais de alta qualidade, como O Pirralho, de A União, e O Norte em Quadrinhos, de O Norte, como passaram a ocupar o prestigioso espaço cotidiano dos jornais. Essa inserção diária foi fundamental para o amadurecimento de algumas criações, que forçadas pela pressão temporal e pela resposta crítica e entusiasta do público, tiveram o escopo que elevou nossos quadrinhos a um patamar profissional.

Depois de anos de retrocesso de nossa imprensa com relação aos quadrinhos, que estiveram ausentes de suas páginas desde meados dos anos 1990, em 2013 A União toma a decisão acertada de voltar a publicar tiras diárias, dando vez à nova geração de quadrinistas, entremeada a alguns ícones da velha guarda. O pessoal do Coletivo WC, que embora já não exista como organização, tem finalmente a oportunidade de ver seus quadrinhos nas páginas dos jornais, no teste fulcral que é o contato com um grande público.

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 19 de novembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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Filosofia de banheiro

Capa do álbum Filosofia de banheiro, de Samuel de Gois

Capa do álbum Filosofia de banheiro, de Samuel de Gois

Os quadrinhos não precisam mais que uma ideia espirituosa para encantar, para mexer com a sensibilidade de seu público. Essa é uma das chaves para entender como as tirinhas são tão prestigiadas nos jornais que ainda as publicam. De mero entretenimento, é possível e desejável trabalhar o humor em seu sentido mais transgressor, o que provoca a reflexão, que instiga o leitor a jogar com as releituras que perpassam suas mensagens.

Samuel de Gois trabalha com essa premissa ao criar as pequenas pérolas que publica em blogs e edições independentes. A série de tiras e cartuns que constitui este álbum nos mostra sua capacidade criativa, abordando com sutil ironia as aparentemente banais situações do quotidiano. Mitos, tradições, lugares-comuns são um bom motivo para a desconstrução provocada pelo humor de Samuel, que não poupa nem mesmo as opiniões consensuais.

O título do álbum – Filosofia de banheiro – já demonstra a irreverência do autor, que minimiza a importância de suas tiradas filosóficas, mas que ao fim e ao cabo serve para valorar a despretensão com que é construída sua obra. Sim, se trata de filosofia, ao se considerar a filosofia como um olhar pessoal para as questões que nos cercam. O lado filosófico das tiras de Samuel estão na particularidade de sua arte, em seu texto poético, assim como em seu trabalho gráfico, que ganha forma como uma expressão espontânea, caligráfica, personalizada.

Essas características remetem aos conceitos dos quadrinhos poético-filosóficos, que ganharam uma fenomenal importância entre alguns quadrinistas brasileiros e pesquisadores ligados à academia. Em geral esses quadrinhos têm na reflexão seu fundamento, extraindo das inquietações do autor os argumentos para sua criação. São quadrinhos com forte teor metafísico, espiritualista, antecipatório e profundamente filosófico na exposição das idiossincrasias.

Os quadrinhos de Samuel de Gois se configuram numa outra vertente dos quadrinhos poético-filosóficos, aquela de não se levar muito a sério, de pensar mais com humor que com a racionalidade cerebral. O que não significa ausência de pensamento e reflexão, ao contrário; as tiras humorísticas com pitadas reflexivas são das melhores traduções do que poderíamos denominar “poético-filosófico”. Samuel de Gois é mestre nessa expressão.

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 12 de novembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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Com a veneta, Maria!

Maria estrelando na revista Veneta

Maria estrelando na revista Veneta

A personagem de história em quadrinhos Maria surgiu em julho de 1975, com produção de tiras não intensiva, mas constante. Já em 1976 saiu a edição de aniversário, revista que reunia boa parte das tiras produzidas. Em 1977 viria a revista Veneta número 1, com tiras de Maria realizadas nesse ano, mas renovando sua estrutura formal.

Veneta era uma edição de bolso, como explicitado em seu logotipo, tinha formato de 10,5cmx15cm, o mesmo dos cartões postais, no sentido horizontal. A revista teve uma única edição impressa em offset, 20 páginas, sendo capas em duas cores e miolo em preto e branco. Contou com apoio de publicidade, uma da própria gráfica em que foi impressa e duas do comércio local, cujos proprietárias eram conhecidas pelo autor. Outra edição foi montada, mas não chegou à impressão.

Veneta tinha o propósito de ser uma publicação barata, com poucas tiras e produção rápida. Curioso que a revista não tenha se chamado Maria, já que se dedicava exclusivamente à personagem. É muito provável que, para Maria, eu tenha reservado um projeto maior, uma revista mais encorpada, como de fato viria acontecer.

Vê-se, em Veneta, uma edição de passagem para a personagem Maria, uma tomada de fôlego para as transformações que se vislumbravam para a personagem. Ainda centrada no tema da solteirice, Maria, nessa edição, continua a perseguir sua busca por um marido, que se pode traduzir pela fuga da solidão. Contudo, não passa despercebido nas tiras o início de viés crítico, em particular dirigido ao imperialismo cultural estadunidense e à indústria cultural como um todo, com ênfase na televisão.

Lendo a revista hoje encontramos os elementos culturais da época, como os “enlatados” – termo que denominava pejorativamente as séries importadas –, algumas referências aos programas e personalidades nacionais, como Chacrinha, Moacir Franco, Sílvio Santos e a novela “coqueluche” do momento, Saramandaia. De quebra, Maria criticava a censura, que se impunha ao país. Embora algumas tiras pareçam ingênuas e o traço elementar, estava-se construindo nessa fase a personagem inflamada que ganharia os jornais diários do estado.

Henrique Magalhães

Publicado no jornal A União, João Pessoa, 5 de novembro de 2013, 2o Caderno, p.7.

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